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Apresentou-se em Istambul um Benfica fiel a si próprio, mantendo os seus princípios de jogo, não obstante adotar uma organização defensiva compacta, sempre que o Fenerbahçe o fez por merecer, o que foi pouco neste jogo. A equipa turca parecia montada numa estratégia ao melhor estilo do recente Mundial 2018, em que apesar de estar em desvantagem consentia a iniciativa de jogo ao Benfica, na expectativa de partir numa transição rápida para o ataque. Cocu havia dado o mote para o facto de expectar que o Benfica se expusesse para posteriormente aproveitar o adiantamento no terreno para contra-atacar. Talvez esperasse que este tipo de mindgames pudessem assustar Rui Vitória, no sentido de este dar instruções à sua equipa para descer as linhas. Contudo, o treinador português foi fiel ao seu modelo de jogo, e vimos um Benfica íntegro.
Nota para a segunda previsão certeira do blog para o resultado do jogo. Mera sorte de principiante. Se a regressão para a média fizer o efeito esperado, seguir-se-á uma sequência de más previsões, contudo não se deixará de as adiantar.
Pontos positivos
Gedson é, sem dúvida, o primeiro grande reforço do Benfica 2018/19. Mais um jogo de grande qualidade, seja ao nível técnico, bem enfatizado no lance do golo, seja ao nível físico, em que 30 metros parecem ser apenas 10 para o jovem jogador, seja para correr para a frente ou para trás. O lance do golo foi um belo exemplo de paciência na construção. Salvio, Almeida e Pizzi atraíram para um curto espaço do terreno três adversários. Castillo e Cervi fixaram outros três, enquanto que Grimaldo, a preparar a transição defensiva fixava mais outro adversário. O único homem do Fenerbahçe que deveria tapar o espaço de progressão de Gedson seria Giuliano, que, no entanto, ficou estático na primeira fila para assistir ao lance. Curiosamente, Pizzi, o homem que mais padece do mesmo mal de Giuliano, apercebe-se da clareira nas suas costas e de que Gedson ficaria com os tais 30 metros que parecem 10 para progredir e aproxima-se ainda mais de Salvio, arrastando consigo o seu marcador. Muito obrigado Pizzi:
Depois, há toda a capacidade física de Gedson para nunca perder a posição perante a pressão do marcador direto. Castillo, por seu turno, dá opção de passe a Salvio, que lhe endossa o passe:
Arrastando o seu marcador consigo, Castillo, de primeira, faz a tabela para servir Gedson. Destaque-se também o trabalho de Cervi e Grimaldo, que ao fixarem dois adversários colocam o lance num 2x3 para Gedson e Castillo resolverem:
Gedson controlou a bola que saiu alta e difícil de dominar, finalizando perante o guarda-redes. Alternativamente podia até ter servido Castillo que já deixara o seu marcador batido:
Defensivamente o Benfica esteve muito seguro, não perdendo muitos lances individuais. Rúben Dias ousou uma outra receção com pouco tempo para tal, causando alguns calafrios. Há sempre um preço a pagar pela ousadia, mas é de salutar a vontade de arriscar e querer fazer melhor do que o chutão para a frente.
Numa análise genérica, o Benfica foi fiel a si mesmo. A sua qualidade na transição defensiva esteve presente, assumindo o risco que esse modelo de jogo também aporta. Nas imagens seguintes vê-se a pressão de Cervi a desarmar o adversário e a servir Fejsa de frente para o jogo e bem subido no terreno:
Com o tempo e espaço de que precisa, Fejsa controlou e serviu Salvio. Fosse o sérvio mais evoluído ofensivamente e podia ter servido Gedson de primeira criando um desequilíbrio ainda maior:
O lance acabou por seguir com Salvio que foi direto ao remate à baliza que saiu muito torto. Faltou mais visão de jogo ao argentino para servir Castillo aqui:
Alternativamente, depois de ter fixado os três da linha defensiva com Castillo, podia ter servido Cervi para o compatriota poder rematar em melhores condições:
E daqui emerge um dos pontos de melhoria.
Pontos de melhoria
A definição dos lances de contra-ataque tão bem gerados pelas virtudes acima descritas, ficou bastante aquém. Muita vontade e pouco discernimento, com jogadores a soltarem a bola no tempo errado e a lerem mal os lances. Ferreyra mostrou uma boa leitura das oportunidades de finalização, mas teve má qualidade na execução, seja no remate em arco por cima do guarda-redes, quando a bola lhe sobrara de um ressalto de Salvio na segunda parte, seja no lance da primeira parte em que passa o guarda-redes, mas depois faltou alguma qualidade para fazer um remate menos tenso, mas mais alto, de forma a evitar o carrinho do defesa. Optou por bater com a parte interior do pé e a bola saiu tensa e em arco. Pedia-se um remate a “cortar” a bola, apanhando-a por baixo. Contudo, falar de fora é muito fácil, mas fazer tudo em frações de segundo numa eliminatória da Champions é outra coisa. Há que dar mérito à desmarcação e visualização das duas jogadas por parte do argentino.
Cervi e Grimaldo foram excelentes numa das maiores dificuldades previsíveis do jogo, que seria a saída da pressão na primeira fase de construção. Foi por eles que o Benfica conseguiu sair muitas vezes. Simultaneamente mostraram muita rotação na recuperação de bola, tornando quase impossível ao Fenerbahçe entrar por ali. Contudo, não dá para tudo, e se ter 1,71 metros de altura facilita na agilidade para sair da pressão e posteriormente pressionar na perda, não facilita no jogo aéreo na hora de defender. O lance do golo mostra inicialmente Grimaldo a recuperar a sua posição na área nas costas de Jardel, com Fejsa a fechar o espaço entre os centrais:
O cruzamento sai no momento em que Grimaldo está a chegar e Fejsa já chegou:
Jardel deixa o jogador das suas costas para Grimaldo, para ir fechar o homem que atacava o primeiro poste:
Grimaldo desce demais e depois é forçado a fazer o contramovimento com a bola a fugir para fora:
Potuk, para além de ser mais alto (1,77 metros), está melhor posicionado para saltar na vertical e atacar a bola. A Grimaldo restou apenas saltar na diagonal contra o turco a fim de dificultar o cabeceamento e evitar um remate de cima para baixo:
O esforço foi inglório e o turco fez um cabeceamento exemplar. Menção honrosa para Cervi, que mostrou toda a sua qualidade defensiva a fechar a chegada de um adversário que poderia aproveitar um ressalto após hipotética defesa de Vlachodimos. Nas imagens seguintes os movimentos de outro ângulo:
Esta é uma pecha defensiva do Benfica, i.e., a exploração do espaço entre o central esquerdo e o lateral esquerdo, porque mesmo quando relativamente bem fechado, na disputa aérea Grimaldo é vulnerável. É um contra que Grimaldo diminui por tudo o resto de positivo que oferece ao jogo do Benfica.
Em suma, o Benfica cumpriu muito bem a missão complicada que se antevia. Alfa Semedo ajudou a segurar o jogo, sendo a sua capacidade física assinalável, em especial a jogar como médio interior. Se conseguir regular o seu posicionamento de forma alinhada com a equipa, promete ser um caso sério, para além de Gedson. O Benfica, para almejar uma grande época, precisa destes novos valores emergentes que venham acrescentar capacidade física e imprevisibilidade a um plantel de valores sólidos. A agenda é apertada e antes de receber o PAOK espera-se uma deslocação complicada ao Bessa, sendo a gestão física dos jogadores essencial neste período. Em breve anteciparemos aqui o jogo com o Boavista. Para já, é tempo de saborear uma vitória determinante para a época que agora começa.