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Primeiro prognóstico aqui do blog, primeiro tiro certeiro: 3-2. Podia acabar aqui a carreira de adivinho de resultados com uma eficácia de 100%... mas isso não seria um blog benfiquista. A previsão do resultado baseou-se nos aspetos que adiantei no post anterior: estado ainda imaturo do modelo de jogo de Luís Castro, com muitos espaços que o Benfica aproveitou muito bem, e a habitual pouca disponibilidade defensiva de algumas unidades encarnadas, que com a qualidade de processos do Vitória seriam seguramente colocadas à prova, e assim foi.
O Benfica esteve muito bem na primeira parte do jogo, destacando-se as combinações ofensivas pelas direita, nomeadamente com a qualidade de drible de Salvio a colocar Rafa Soares em grandes dificuldades. Pela esquerda, o Vitória defendeu melhor e conseguiu conter Cervi e Grimaldo, com exceção do lance do terceiro golo, mas que nesse caso o maior ónus de responsabilidade fica na fraca presença na cabeça da área dos homens vitorianos responsáveis por fechar esse espaço que Pizzi tão bem soube aproveitar.
Pontos positivos
É incontornável falar de Pizzi neste jogo. Revelou uma tremenda eficácia quando em posição de atirar à baliza, com muita calma e inteligência a vir de trás, aproveitando os espaços abertos pelo Vitória. Esta temporada surge mais presente na primeira fase de construção, pegando na bola desde trás, libertando mais a segunda fase para os homens das alas, para depois surgir novamente na definição e finalização. É uma dinâmica interessante, mas exigente do ponto de vista físico e com eventuais consequências na frescura mental decorrente do desgaste.
A capacidade de pressão alta foi também outro aspeto muito positivo desta primeira partida, com o trio de argentinos da frente sempre muito disponível e quase sempre assertivo no momento de pressionar. Notou-se a diferença no segundo tempo, com a alteração dos alas, nesta capacidade de conter o adversário.
Gedson é também um elemento que traz maior rotação ao meio-campo encarnado, para além de uma maior agressividade ofensiva, principalmente pela capacidade de transporte, sempre com pausa quando necessário, fixando e soltando assertivamente. O primeiro golo é um exemplo claro disso, em que deixa André André completamente para trás, para depois servir no centro. Pizzi, por seu lado, nem por sombras é capaz disto. Se Gedson for capaz de melhorar a sua assertividade na agressividade defensiva, trará uma grande melhoria ao momento defensivo do Benfica, que ainda está deficitário.
Pontos de melhoria
O primeiro golo do Vitória é um exemplo da desarticulação que existe entre a linha defensiva e a linha de meio campo no momento defensivo. Alfa Semedo sai em Davidson de forma impulsiva, quando Pizzi já se aproximava para conter o brasileiro. Com este impulso, Alfa deixou André completamente isolado, com tempo para rodar e colocar o remate.
A culpa é de Alfa? A culpa é coletiva, ou das orientações que estão definidas para o comportamento defensivo. Se Alfa cai em cima do portador que recebe enquadrado, então Pizzi tem de fechar logo as costas de Alfa, ou então Gedson faz essa cobertura e Pizzi fecha a linha de passe para o homem do centro:
E então o comportamento da linha defensiva? Portador enquadrado? Sim, logo prioridade ao controlo da profundidade. Mas tão em cima da baliza? Vlachodimos tem mais do que tempo para sair e apanhar qualquer bola que caia nas costas da defesa:
O segundo golo do Vitória nasce dos mesmos males defensivos. Alfa sai demasiado em cima do portador que já estava a ser pressionado por Rafa e abre uma cratera no setor entre linhas, e que Pizzi é incapaz de ler e preencher o espaço:
Depois, Rafa (um dos homens mais velozes da Liga) deixa que André e Celis fiquem numa situação de 2x1 com Jardel apenas pela frente, sem perseguir Celis, evitando que André o isolasse. As imagens abaixo distam 1 segundo e vê-se Rafa a abrandar, pese embora Jardel esteja a apontar-lhe o caminho. Para um jogador tão veloz que estava há 16 minutos em campo, atesta-se bem da diferença abissal em termos de capacidade defensiva comparativamente com Cervi ou Salvio. O problema não é uma questão de disponibilidade de Rafa, porque ele ainda veio num primeiro momento da frente para encostar em Celis, mas depois, de frente para a sua linha defensiva foi incapaz de ler que Jardel estava sozinho com dois jogadores pela frente e que perante este cenário tinha de intensificar ainda mais a sua perseguição a Celis:
Há muito ainda para trabalhar do ponto de vista defensivo neste Benfica 2018/19. Alfa Semedo no lugar de Fejsa é ainda um suicídio defensivo, em especial pelas dificuldades de Pizzi em ler o jogo atrás e antecipar a necessidade de fazer coberturas nos momentos em que o trinco tem de sair para fazer contenção. Alfa tem mais propensão para entrar para o lugar de Gedson ou Pizzi do que para substituir Fejsa. O sérvio continua a ser um globetrotter defensivo nesta equipa.
Outro ponto de melhoria são as dificuldades de construção do trio Jardel, Dias e Fejsa. O Vitória pressionou bem melhor na segunda metade do segundo tempo, mas mesmo no primeiro tempo, as dificuldades técnicas destes três jogadores são muitas quando bem pressionados. Urge retirar um coelho da cartola para definir o que fazer nestes momentos, em especial nos jogos com as melhores equipas da Liga e na maioria dos jogos europeus (o próximo de terça-feira, por exemplo). Face aos recursos atuais do plantel, uma boa alternativa seria colocar Castillo na frente como referência para jogo direto, para segurar a bola e depois entregar nos médios que estiverem de frente para o jogo para além da primeira linha de pressão. Descer Pizzi para ajudar a construir sob pressão na primeira fase de construção não revelou ser muito boa ideia no jogo de ontem. O segundo golo do Vitória nasce precisamente de uma situação desse tipo. Falta no plantel um jogador "cofre" na posse de bola, ou seja, com capacidade técnica e física para segurar a bola quando pressionado, um pouco à imagem do que William Carvalho faz de forma exímia, ou Witsel já num nível mais elevado. Gedson tem técnica para isso, mas falta-lhe a dimensão física para suportar a carga. Alfa tem físico, mas falta-lhe a técnica para "jogar" com os apoios do adversário para sair da pressão. Falta alguém que combine as duas competências. Genericamente, o plantel parece ser curto nesta matéria de sair da pressão. Ferreyra e Jonas não são avançados que segurem bem na frente de costas para a baliza a aguardar a subida da equipa. Castillo e Seferovic aparentam ser mais capazes desse papel, mas, pelo menos o Suíço, são bem piores em tudo o resto. Do que conheço de Gabriel do Leganés, poderia ser uma solução para dar mais recursos ao Benfica a este nível. Veremos se o brasileiro vem.
Em suma, primeira missão cumprida. Nada como entrar a ganhar na Liga para dar confiança para o que vem a seguir.