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Após uma entrada de rompante na Liga, travada pelo amargo de boca de conceder dois golos que colocaram alguma incerteza no resultado frente ao Vitória de Guimarães, o Benfica joga amanhã um dos jogos mais importantes da época.

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O Benfica de Rui Vitória, pese embora as críticas de que é algumas vezes alvo, é uma equipa com um modelo de jogo, relativamente completo. A nível defensivo, as suas características principais passam pela rápida reação à perda, numa transição defensiva que bloqueia a saída de bola do adversário em contra-ataque, ora forçando a perda, ora travando a progressão, permitindo o reposicionamento em organização defensiva. Não é uma equipa excecionalmente pressionante na primeira fase de construção do adversário, pese embora tivesse revelado em 4-4-2 algumas dinâmicas dos dois avançados para recuperar a bola nesse setor. Em 4-3-3 vemos um dos interiores do meio-campo a subir para pressionar em conjunto com o ponta de lança, mas ainda sem o mesmo êxito da versão 4-4-2 apresentou amiúde no passado.

 

A linha defensiva é ainda uma das boas características do modelo, com jogadores cumpridores da dinâmica de controlo da profundidade. Após as dificuldades dos primeiros meses de 2017/18, a renovação da dupla de centrais e do guarda-redes (saída do onze de Luisão e Júlio César), vieram aproximar o trabalho ao desenvolvido em 2016/17, pese embora as devidas diferenças de qualidade individual do guarda-redes (Ederson vs. Bruno Varela) e do central (Jardel vs. Lindelof). Atualmente há margem de evolução para Rúben Dias, com a certeza de que se tornará um jogador cada vez mais completo no Benfica, não vá o Lyon levá-lo nos próximos dias. Jardel, por seu turno, é também um valor seguro, um homem tranquilo e experiente, com muita qualidade no jogo aéreo e um perigo nas bolas paradas ofensivas. A sua presença em campo é garante de cumprimento dos comportamentos desejados para a linha defensiva. Tem obviamente limitações na construção e de agilidade. A maior reserva que coloco aos quatro jogadores da linha defensiva é dificuldade no duelo um para um. Um exemplo recente foi o jogo com o Lyon, em que Memphis, em especial, colocou esse aspeto em destaque. Contra jogadores mais hábeis tecnicamente (e na Champions há muitos) vai ser sempre uma fragilidade a explorar pelos adversários. Com exceção de Dias, os restantes defesas são algo permeáveis no um para um, ora por falta de agilidade (Jardel), ora por falta de agressividade no momento certo (Grimaldo e Almeida). Ressalve-se a importância dos laterais no modelo de jogo, em que se pressupõe que tenham um comportamento muito ofensivo, sendo difícil encontrar jogadores que sejam muito bons quer a atacar, quer a defender. Antes de crucificar Grimaldo pelas dificuldades defensivas e áreas, não convém esquecer tudo o que ele oferece do ponto de vista ofensivo. E mesmo Almeida, mesmo não sendo um virtuoso, é um poço de energia, capaz de aparecer bem em zonas ofensivas, a assistir e a finalizar, bem como tudo o que oferece ao grupo pela sua forma de estar. São aspetos intangíveis, mas o seu papel no balneário não passa ao lado dos olhares mais atentos a estas dinâmicas.

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Defensivamente, este modelo é exigente, e mesmo Lisandro, com toda a sua capacidade de desarme, andou sempre perdido na ocupação dos espaços, sem nunca agarrar um lugar no onze. Rui Vitória manteve, desde Jesus, o princípio de defender bem e com poucos, num comportamento subido da linha defensiva.

 

Fejsa é um elemento chave neste modelo, dada a sua enormíssima qualidade na cobertura ofensiva e na leitura da transição ofensiva adversária, não esquecendo também a sua capacidade de desarme. É um jogador fantástico e insubstituível no Benfica há já algumas épocas, sendo que com o plantel atual, o sucesso do modelo está muito assente na sua qualidade.

 

Sem querer alongar mais o tópico, deixando a componente ofensiva do modelo para outro momento, os aspetos referidos fazem do Benfica uma equipa preparada para atacar de forma continuada. É este modelo que permite tantas vitórias na Liga contra equipas cuja qualidade individual (leia-se capacidade para “fugir” do sufoco pós-perda do Benfica) é mais fraca. Recuperando a bola com o adversário acabado de se abrir para contra-atacar, ou demasiado profundo porque anteriormente empurrado para aí, permite aproveitar bem os espaços e definir com a qualidade dos nossos homens da frente. O modelo complica-se quando os adversários têm capacidade de sair da pressão pós-perda. Geralmente, o Benfica protege-se contra esses adversários e joga mais baixo, deixando o adversário progredir à vontade até à linha de meio campo. Na temporada passada, nos jogos mais complicados (Old Trafford e Luz com o United, Moscovo, Alvalade) excetuando o jogo no Dragão, o Benfica adotou sempre a estratégia de colocar Samaris ou Augusto no lugar do interior ofensivo (Krovinovic ou Zivkovic), junto a Fejsa e Pizzi. Os resultados foram três derrotas e um empate, pese embora no empate a vitória tivesse sido mais do que merecida.

 

O jogo de amanhã com o Fenerbahçe será obviamente de grande exigência. Para além do ambiente de “inferno” criado pelos adeptos turcos, o Fenerbahçe, apesar de longe da qualidade individual de um Manchester United, tem muito boa qualidade na posse de bola e uma construção paciente de jogo. Têm boa técnica na primeira fase de construção e criatividade na segunda, bem como boa capacidade finalizadora. Antevê-se um Benfica muito tempo em organização defensiva. Neste aspeto Gedson tem mostrado muita inteligência na ocupação de espaços e uma velocidade e agilidade muito superior a Samaris. Por outro lado, a menor experiência poderá causar algum momento de desatenção. Pizzi, por seu turno, tem andado perdido do ponto de vista da proatividade defensiva, embora sempre disponível para reagir e ir atrás do prejuízo, embora algumas vezes demasiado tarde. O facto do Benfica poder jogar mais compacto poderá ajudar a esconder esta dificuldade. Com Pizzi em campo, se o Fenerbahçe lhe der algum espaço, poderá ser possível fazer transições ofensivas rápidas, lançando em profundidade os avançados, antevendo uma defesa mais subida dos turcos.

 

Para o onze inicial creio que Rui Vitória não irá mexer face aos dois jogos anteriores. Com o balanceamento ofensivo do Fenerbahçe, Ferreyra promete causar estragos com a sua excelente leitura de espaços, prevendo um maior espaço na linha defensiva turca. Juntando a isso o bom momento de Salvio, Cervi, Pizzi e Gedson, creio que o Benfica tem excelentes condições para ultrapassar esta eliminatória. O maior desafio estará nos duelos individuais com os melhores jogadores dos turcos no um para um, que criando o desequilíbrio podem depois servir o avançado, que por sinal tem muita qualidade (Soldado). Sabendo que nas coberturas defensivas o Benfica tem demonstrado dificuldades recentes, o jogo pode complicar-se muito.

Não obstante, acredito que as forças serão maiores que as dificuldades e que o Benfica vai sair com um resultado positivo de Istambul. Prevejo o Benfica a inaugurar o marcador, para depois sofrer bastante e a assegurar a eliminatória com um resultado final de 1-1.

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2 comentários

De Anónimo a 15.08.2018 às 11:40

Estas a ser muito fiavel nas previsoes!!!

Quanto ao jogo, so vi os ultimos 30 minutos mas pelos vistos, uma previsao tua foi falsa porque o Castillo foi titular, e bem porque os movimentos inteligentes de Ferreyra sao interessantes nas distanças curtas e com linha defensiva alta enquanto que o Castillo é bom longe à frente das linhas mais baixas para segurar bola e permitir subir as linhas.

Espero que o teu blogue tenha sucesso porque es pragmatico na analise do Benfica. O RV que muito detestem é muito parecido com Deschamps ( primeiro os jogadores que sabem executar a estrategia e depois deixar o talento dos jogadores à solta nas melhores disposiçoes; o problema é que no Benfica é como se essas duas facetas nao fossem proporcionais e explica as tais criticas ao RV para nao fazer jogar certos jogadores tipo Rafa e Zivko) e a estrategia bem pensada do primeiro permitiu passar sem esferas à segunda fase das qualificaçoes.
Vi o segundo tempo do primeiro jogo e como jà disse os 35 ultimos minutos, e se nao foi um grande espetaculo, foi uma grande liçao de estrategia.
Segundo tempo da 1era mao: encurtar as linhas com o maximo de pressao e contra pressao para recuperar bola alta e sempre como objectivo de nao arriscar a transicao ofensiva do adversario, e por isso joga-se nas alas e nos meios espaços.
30 minutos finais: pôr a bola nos cantos mais chatos para o jogo nao se desenvolver e fazer pressao à primeira fase e so jogar a organisaçao defensiva total quando nao houver profundidade nas costas da linha defensiva; muito boa transiçao ofensiva da nossa parte mas os bons executantes da estrategia a errarem muito na decisao.

Os três jogadores devisivos destes jogos foram o Fejsa que é o cerebro da estrategia coletiva, o Gedson como peça mais decisiva no aspeto defensivo e ofensivo desta estrategia e começa a ser o upgrade do Matuidi, e o Salvio porque dos três da frente é o mais mexido, que melhor ataca a profunididade e que perfore forte o espaço, o mais perigoso e letal diante da baliza.

Alias, esse tipo de jogar serà contras equipas fortes e contra equipas fechadas, veremos Jonas, Rafa, Zivko e até o Joao Félix. O Jonas nao tem pernas para fazer o jogo de pressao mas serà que o Rafa, o Zivko, o Joao Felix e mesmo o Jota nao têem fisico e andamento ou porque nao sabem ser rigorosos para executar de forma eximia as instruçoes da estrategia estabelecida? Um pouco dos dois mas é pena porque se um ou varios dos citados tivessem esse jeito, podiamos ser uma equipa muito mais temida do que somos.

Fico à espera do teu proximo artigo e das tuas previsoes....

De Pedro Gomes a 17.08.2018 às 15:45

Obrigado pelo apoio! Também estou com muita expectativa face a Felix e Jota, sendo que um deles no apoio ao ponta-de-lança pode trazer algo de novo ao modelo ofensivo, um pouco como Guedes fazia quando cá estava. Quanto a Rafa e Zivkovic, espero que a sua enorme qualidade "force" a integração no 11. Para já, ainda não são "avassaladores" de forma suficientemente constante para forçar o desequilíbrio defensivo que a saída de Cervi ou Salvio trará. Veremos o que o futuro ditará.

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